Vivendo em um mar de incertezas
Faz dias que estamos trancados, isolados, distantes. Vivendo de incertezas e medos — bem longe do nosso "normal". Os jornais, noticiários, redes sociais giram em torno da pandemia. Era de se esperar. Afinal, quem de nós imaginou viver neste universo paralelo? Eu, certamente, não.
Por vezes, pensei como seria em um possível ataque zombie. Era mais uma brincadeira com os amigos do que qualquer outra coisa.
Entre tanto barulho, gráficos e informações cruzei com alguém dizendo que o mundo não será como era. Não vamos voltar à viver como antes.
E, naquele instante, letras garrafais apareceram em minha mente: "nada será como antes". Essas quatro palavras me atingiram como uma bala no peito ou um soco no estômago. Não sei descrever ao certo, mas senti uma dor violenta.
Fato é que, ansiosa que sou, pensar que daqui para frente não tenho mais controle de nada — nem daquela falsa ideia de que comandava minha vida– me assusta demais. Saber que vivo sem ter ideia do amanhã é brutal para minha saúde mental.
Também sei que pensar na minha ansiedade agora é algo extremamente narcisista. Alô, Narciso. Bora falar?
Tudo fica embaçado. Tento pensar que estou sozinha em um país que não é o meu, que posso me permitir uma dose de egocentrismo. O coração palpita tanto que parece querer sair do meu corpo.Daí vou até à janela da sala para respirar o ar gelado de Vancouver.
Então, começo a olhar para os prédios vizinhos, para as outras janelas e imaginar que, assim como eu, há outras pessoas sentindo essa carga, esse medo. Fico pensando que queria dizer para cada uma delas: calma, vai ficar tudo bem! Mas não posso, porque não está tudo bem. Afinal, quando isso passar tudo será diferente.
